Lançado em 1980, o
filme O Iluminado (The Shining) marcou o gênero de terror e
é um dos filmes mais cultuados pelos fãs de cinema, ocupando (atualmente) a 47ª posição no ranking do IMDb. Dirigido por Stanley Kubrick (2001 – Uma Odisseia no Espaço, Laranja Mecânica), foi roteirizado pelo próprio Kubrick e por Diane Johnson com base no livro homônimo de Stephen King. Com cenas marcantes como a
das gêmeas no corredor e o ataque da mulher do banheiro, o filme também é
fortemente marcado pela bela atuação de seus protagonistas: Jack Nicholson,
Shelley Duvall e Danny Lloyd.
Porém, mesmo com todo o
sucesso do filme muito se fala sobre sua adaptação e falta de fidelidade ao livro.
Para analisar as diferenças essenciais vamos entender primeiro o que é comum a
ambos:
O
Iluminado conta a história da família Torrance, que passa uma temporada isolada do mundo, em um
hotel durante a baixa estação quando o mesmo fecha devido ao intenso inverno de
sua localização nas montanhas. Jack
Torrance é um ex-alcoólatra em busca da um reinício após tantos incidentes
infelizes. Ele aceita o emprego de caseiro do luxuoso Hotel Overlook no inverno, com a intenção de terminar uma peça
teatral durante o período; sua mulher Wendy
Torrance é uma dedicada esposa e mãe, desgastada com os deslizes do marido,
mas que ainda deseja a união da família; por fim, o filho do casal: Danny Torrance. O pequeno Danny é um
garotinho de 5 anos que possui poderes sobrenaturais, o que lhe permite, entre
outras coisas, ter visões sobre o passado e o futuro. As visões de Danny vêm
através de um amiguinho imaginário: Tony.
No último dia de
funcionamento do hotel antes da pausa de inverno, o cozinheiro Dick Hallorann reconhece os dons do jovem Danny. Dick diz
que o garoto assim como ele é um iluminado,
uma pessoa com poderes psíquicos e sobrenaturais, essas pessoas não são tão
raras, porém algumas têm maior poder de iluminação que outras. Dick avisa que
Danny tem o maior poder que ele já viu e alerta o menino para os perigos do
hotel, onde coisas esquisitas acontecem.
Aos poucos os membros
da família vão sofrendo com a influência do hotel e da solidão nas montanhas,
culminando com o enlouquecimento de Jack tentando matar sua família.
Em linhas gerais, essa
é a história de O Iluminado, agora vamos ver como ela é desenvolvida no livro e
no filme.
O
livro:
Overlook, tratado quase como
um quarto personagem principal do romance. O passado do hotel é revelado a Jack
através de um diário de recortes de jornais. Suicídios, crimes passionais,
assassinato de gângsters, entre outros casos sórdidos. São os fantasmas do
Hotel Overlook que tomam conta da mente de Jack e fazem com que ele se volte
contra a própria família. O objetivo é pegar Danny, porque seus poderes deixam a
paranormalidade do hotel mais forte, o hotel usa Jack Torrance porque ele tem uma mente mais fraca
devido a seu conturbado passado.
As histórias sobre o
passado do hotel e os ataques dos fantasmas são realmente assustadoras e tem
muito mais espaço no livro.
Stephen King |
Outro ponto importante
do livro é a relação entre pai e filho. Danny nutre um amor incondicional pelo
pai, mesmo já tendo sofrido com seus momentos de alcoolismo. Essa relação é
importante porque deixa o leitor ainda mais assustado quando Jack tenta matar a
família. Isso, aliás, é um recurso bastante usado por King em suas obras. O
autor nos apresenta uma situação muito bonita e agradável entre dois ou mais
personagens e logo depois interrompe com algum tipo de tragédia. Quem já leu o
que acontece ao pequeno Gage Creed
depois de algumas páginas de brincadeiras com o pai em O Cemitério, sabe do que
eu estou falando.
O
filme:
Já no filme de Stanley
Kubrick a situação é muito mais voltada para o enlouquecimento devido ao
isolamento nas montanhas do que aos fantasmas do hotel. Jack Nicholson, que
interpreta Jack Torrance, vira senhor da história, é para seu personagem que a
trama é voltada.
Ainda sobre o ator, ele
foi alvo de divergências entre King e Kubrick. Quem leu O Iluminado sabe que
Torrance é um sujeito com um passado de crises devido aos problemas com o
álcool, mas tirando isso é uma pessoa normal. O problema com Jack Nicholson é
que ele já tem cara de doido desde o primeiro minuto em cena (a situação é
ainda pior para que assiste esse filme depois de já ter visto Nicholson em Batman, Melhor é Impossível, Tratamento de Choque, ou Os Infiltrados).
Sobre a relação entre
Jack e Danny, ela não convence no filme. Apesar de ótimos atores, não existe um
ponto na trama no qual podemos ver uma interação de pai e filho entre os dois. Não
há o carisma da relação familiar em nenhum momento entre eles.
Existem outras
diferenças mais básicas, como a história da mulher do banheiro ou o amigo
imaginário de Danny, mas isso não interfere na estrutura criada por Stephen
King.
Jack e Danny Torrance - Relação entre os dois não convence no filme. |
O
veredicto:
Que me perdoem os fãs
de Kubrick ou King que esperavam uma posição mais radical de minha parte para
um dos lados, mas no caso de O Iluminado não vejo porque não gostar das duas
mídias. O livro tem momentos incríveis, difíceis de adaptar e as tensões
criadas por King funcionam muito bem. Sou um apaixonado pela obra de Stephen King
(COM CERTEZA farei mais posts sobre elas), seu modo de escrever e o
universo que ele cria para cada livro, mas há de se reconhecer que o filme também
tem seus méritos. E MUITOS.
Stanley Kubrick |
Stanley Kubrick soube
trabalhar muito bem com os elementos de cena, causando uma claustrofobia no
espectador. Danny andando de motoca nos corredores do hotel é um exemplo. A
trilha sonora também aumenta o clima de suspense. Nos momentos de tensão, Kubrick
dava cortes secos nas cenas, tal efeito é capaz gelar a espinha de quem
assiste.
Mas acima de tudo, Jack
Nicholson. Se o roteiro de Kubrick e Johnson muda o foco do filme para a
loucura de Jack Torrance, Jack Nicholson faz essa mudança valer a pena.
Completamente surtado, o ator protagonizou cenas marcantes. Hereeeee’s Jonnhy... Quem já viu o making of que mostra Nicholson antes de
fazer a famosa cena com o machado pôde ver o nível de carga emocional que o
ator deu ao personagem. No mesmo making
of, vemos também o perfeccionismo do diretor que chegava a arrancar
lágrimas de Shelley Duvall (que interpretava Wendy Torrance) com suas broncas sobre
a atuação da atriz.
Famílía Torrance em diversos momentos do flme. |
Stanley
Kubrick desvirtuou muito a obra de King? Muito. Era melhor ter colocado outro nome no filme
e nos personagens? Talvez. De qualquer forma, Kubrick criou um filme muito,
muito bom dentro das adaptações que fez.
A
minissérie:
Capa do dvd americano da minissérie. |
Insatisfeito com o
filme, Stephen King produziu uma minissérie em 1997, cujo roteiro era
basicamente uma cópia do livro. A minissérie foi dirigida por Mick Garris e
protagonizada por Steven Weber e Rebecca De Mornay. No total são mais de quatro
horas de duração. Super fiel ao livro, a história do Hotel Overlook é, de fato,
muito bem abordada. Para quem tem curiosidade para ver como seria uma versão
fidedigna do livro, a minissérie cumpre esse papel, porém ela não consegue nos
dar as mesmas tensões e o medo produzido pelo livro e nem pelo filme.
Jack Torrance da minissérie. |
Mulher do banheiro da minissérie. |
Novidades:
A prequela de um e a sequência de outro.
Em julho de 2012 foi
divulgado que a Warner Bros. estaria
produzindo um prelúdio do filme, intitulado The Overlook Hotel. A única grande novidade desde o anúncio da
prequela até hoje é a contratação, em abril, do ex-produtor da série TheWalking Dead, Glen Mazzara como roteirista. Quem sabe teremos uma resposta para
última cena do filme, que até hoje é alvo de várias teorias. Por outro lado,
Stephen King está prestes a lançar a continuação de seu livro. O romance Dr. Sleep mostrará o personagem Danny
já adulto, trabalhando em hospital e usando seus poderes para ajudar pacientes
que estão morrendo. O livro tem data de lançamento para 24 de setembro deste
ano. Agora é só aguardar.
Capa do livro Dr. Sleep, sequência de O Iluminado, que será lançado em setembro de 2013. |
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